No passado fim-de-semana de 29 e 30 de Setembro aconteceu em Lisboa o WordCamp Lisboa 2012, segunda edição em Portugal. Este é o evento que por norma reune os entusiastas, programadores, designers e bloggers que usam ou criam o WordPress e tornam este evento único em todos os níveis: espirito colaborativo, aprendizagem e entre-ajuda.
Tive a oportunidade de fazer parte da organização deste evento, mais precisamente no segundo dia, o dia do hack day, e são muitas as experiências que recolhi e que tenho muito gosto em partilhar aqui.
O ESPÍRITO LIVRE DO WORDPRESS
Por mais que usemos o WordPress e por mais anos que venham, o WordPress, o software propriamente dito, continuará a ser livre e gratuíto para a humanidade, ou seja, qualquer um poderá sempre descarregar o software e corrê-lo da maneira que lhe apetecer, modificando-o e ou redistribuindo-o livremente por quem quiser – este é o primeiro principio livre do WordPress, atribuido pela licensa GPL.
Como é óbvio, essa liberdade de uso, reflete-se por toda a comunidade. São centenas ou até milhares de horas de trabalho gratuito que desenvolvedores por todo o mundo somaram ao escrever código, desenhando wireframes ou ajudando na documentação do WordPress, sempre com o mesmo objectivo: tornar o WordPress livre, gratuito e disponível para todos os que quiserem usá-lo.
Posto isto, um ponto que ficou bem assente durante o evento foi a necessidade de cada um contribuir um pouco, com aquilo que pode, para a comunidade WordPress, escrevendo código ou ajudando nas traduções ou documentação, devolvendo assim a sua experiência e contribuindo para melhorar ainda mais este software que todos nós usamos e a grande parte usa profissionalmente.
PONTOS IMPORTANTES DO EVENTO
É de louvar a quantidade de sponsors que contribuiram de alguma maneira para que este evento decorresse da melhor forma. Podemos realçar alguns dos mais importantes: Domain.ME, WooThemes, Wysija, Code Poet e ManageWP.
Este ano a edição decorreu no Auditório grande do ISEL – Instituto Superior de Engenharia de Lisboa em parceria com o Co-Work Lisboa e outras organizações.
No programa conseguiu-se trazer vários nomes internacionalmente conhecidos no mundo do WordPress como:
- Noel Tock, fundador da HappyTables e um dos oradores do WordCamp de São Francisco;
- Andrea Rota, criador do Pods, um plugin que é uma framework para projectos avançados de WordPress;
- Kim Gjerstad, fundador do Wysija, um serviço de envio de newsletters para WordPress, atualmente mundialmente conhecido;
- Hanni Ross, a Happiness Lead na Automattic, ou seja responsável por garantir o suporte aos utilizadores do WordPress.com;
- Cristi Burca (scribu), não necessita de apresentações, visto ser um dos maiores contribuidores para o WordPress e de vários plugins mais usados;
Houve transmissão ao vivo e gravação das palestras. Possivelmente serão todas publicadas no WordPress.TV.
À semelhança do que aconteceu em São Francisco, no segundo dia do WordCamp (domingo) estava organizado um hack day, onde vários entusiastas do WordPress se reúnem para debater problemas na core, resolver tickets e traduzir partes do WordPress. Foi fantástico ter aparecido cerca de 50 pessoas no mesmo espaço, todas a colaborar para o mesmo, organizadas em grupos.
O mais apetecível de tudo isto foi o preço: apenas 30€ pelos dois dias, o que na realidade é muito pouco para um evento desta magnitude e paga muito bem as refeições (dois almoços) e os coffe breaks da manhã e da tarde em ambos os dias.
COMO TUDO DECORREU
O horário do programa foi respeitado dentro do possível e cumprido na sua maioria.
Pelas 9:45 o Ryan Hellyer apresentou a sua palestra Large scale WordPress without breaking the bank, onde mostrou como escalar uma instalação de WordPress, transitando-a de uma plataforma lenta para uma das mais rápidas que existem actualmente. Falou dos seus fracassos e de como conseguiu alcançar o que pretendia com esforço e empenho.
Às 10:15 começou a palestra do Gonçalo Peres, A minha plataforma WordPress ideal e outras cenas… que infelizmente foi assolada por um corte na ligação à internet e que dificultou toda a talk uma vez que o palestrante tinha em mente o uso da internet como parte principal da conversa. No entanto, e apesar de ter acontecido uma surpresa, ele consegui passar a mensagem que queria à plateia da melhor maneira. Fica aqui o link para o roteiro da sua apresentação.
Noel Tock seguiu-se passavam pouco menos das 11:00 com a sua palestra Lessons learned running a WordPress Business dando o exemplo do bem sucedido HappyTables, um serviço de SaaS que ele próprio criou e que oferece de uma forma rápida sites com todas as ferramentas para restaurantes. Um exemplo de dedicação e análise de mercado bem elaborada.
O Vasco Marques trouxe-nos, pelas 11:30, uma palestra onde apresentava à comunidade o novo site do Marketing Portugal. Começou por explicar no que consiste e o que é a comunidade do Marketing Portugal. Mostrou o site actual e comparou-o às funcionalidades do novo, totalmente feito em WordPress e que será lançado brevemente. Algumas das funcionalidades bem interessantes passam pela existência de uma secção de ideias e pelo widget com o top de redes sociais dentro da comunidade.
Já era quase hora de almoço quando Andrea Rota, criador do plugin Pods apresentou a sua palestra sobre dando a conhecer à plateia o Pods – a CMS framework for advanced WordPress projects. O plugin Pods ajuda na criação de novos content types, metas e tabelas próprias através de uma interface de UI, sem necessidade de programação. Dá a possibilidade de ligar dados através de relações many-to-many e one-to-many e mostrou ao vivo como usar o plugin e criar novos tipos de conteúdo. Muito interessante também é apresentar-se como Researcher Web developer, o que na verdade pode ser comprovado pelo excelente trabalho que tem feito.
O almoço aconteceu na cantina do ISEL, o que ajudou a organização a não ter que se preocupar com a distribuição de refeições pelos participantes, no entanto essa distribuição demorou mais que o previsto.
Passavam pouco antes das 14:10 quando Kim Gjerstad apresentou «How to build a business around a plugin. Wysija’s example» onde demonstrou com grande dedicação como é fácil construir um negócio em volta do WordPress, neste caso em volta de um plugin. Foi uma apresentação dinâmica e que demonstrou a qualidade de muitos developers que existem pelo mundo todo. Basta dedicação, paixão, conhecimento de causa e criatividade.
Criatividade essa demonstrada pelo Hugo Fernandes, na sua palestra WordPress e a Criatividade. Esta foi mais que uma palestra, foi uma apresentação que propunha abrir mentes para a despreocupação que a sociedade tem em “matar a criatividade” a começar pela escola e a acabar no trabalho em adulto. Foi uma palestra muito dinâmica e, na minha opinião, uma das melhores que foi apresentada. Sugiro mesmo que, se não tiver tempo para rever todo o WordCamp, que ao menos salte para o vídeo desta palestra.
Logo a seguir seguiu-se algo diferente daquilo que se estava à espera. Não foi uma palestra, mas sim uma conversa em torno do papel do WordPress nos mídia sociais, isto na era da informação. Start spreading the news levou quatro pessoas para uma conversa longa: Laura Alves (jornalista), Luís Cristovão (editor e jornalista desportivo), Nuno Ramos (consultor de comunicação) e a Associação Mais Cidadania, representada por mim próprio. A moderação esteve a cargo do Álvaro Góis.
Começou-se por fazer as habituais apresentações, começando por comentar uma noticia do jornal Público que falava sobre a democratização da informação provocada pelas redes sociais. A conversa acabou por ir mais longe quando, por provocação da plateia, seguiu-se para o tema sobre a qualidade da informação que nos é transmitida no quotidiano. Este tema levou que mais pessoas quisessem expressar a sua opinião. Falou-se além disso de cidadania e do estado da democracia. Como não podia faltar, falou-se também sobre o papel do WordPress. Uma hora e quase meia de conversa que teria, sem sombra de dúvidas, ainda muito mais por falar.
Porque o WordCamp já se estendia no programa, a Hanni Ross cedeu gentilmente o seu espaço de tempo para a palestra seguinte, deixando o problema da extensão do tempo resolvido. No entanto devemos ressalvar que a experiência da Hanni podia ter sido interessante para muitos da plateia.
A apresentação do Alexandre Marreiros decorreu com uma demonstração ao vivo de como criar um plugin, mostrando a simplicidade da criação de plugins para o WordPress. Igualmente fez uma pequena introdução onde explicou o propósito geral da existência de plugins e como tudo funciona na core.
A apresentação seguinte era talvez das mais esperadas deste WordCamp, com o Cristi Burca (scribu) a apresentar o seu plugin Posts-2-Posts explicando como colocar a funcionar com o nosso próprio código. Esta foi uma palestra muito interessante do ponto de vista técnico, no entanto o sentimento geral da plateia era de desinteresse devido ao grau de conhecimento exigido para entender tudo o que estava escrito nos slides. De qualquer maneira a presença do Cristi neste WordCamp foi realmente um ponto alto.
Para terminar, o Zé Fontainhas ajudou-nos a desmistificar o WordPress para os nossos clientes e concorrência, uma maneira simpática de mostrar através de números o alcance e penetração do WordPress em quase todas as áreas de negócio, estando presente em vários dos grandes websites. Deu exemplos hipotéticos de situações comuns que acontecem aos profissionais que vendem o WordPress como plataforma de desenvolvimento e maneiras de como argumentar a seu favor. Foi uma escolha fantástica a ideia de colocar esta apresentação no final do dia, além do carácter comunitário já habitualmente presente em todas as palestras do Zé, gerou-se discussão entre a plateia que tornou este num final de dia agradável.
AFTER PARTY
O dia não podia estar concluído sem uma festa após o jantar. A noite foi estupenda no Hannesy’s bar, um Irish pub localizado no cais do sodré, em Lisboa. O convivio durou várias horas entre todos da organização, participantes e palestrantes. No meu caso esta experiência durou até às três da manhã onde permaneci numa longa conversa com o José Marques.
O HACK DAY
O dia seguinte começou com o hack day com a presença de cerca de 50 pessoas, dispostas a colaborar e contribuir no projecto WordPress. Entre elas estavam pessoas desde os 17 aos 55 anos de idade, programadores, designers, tradutores experientes e menos experientes, incluindo algumas pessoas que não tinham ainda experiência em WordPress mas já sentiam esse apelo em devolver algo à comunidade. Como ferramentas de trabalho, criou-se um site onde os grupos podiam comunicar-se entre si e colocar dúvidas ou sugestões, tornando o processo de criação bastante colaborativo.
No início, pelas 11:30 fez-se uma dinâmica de grupo com os presentes onde se deu a conhecer os nomes e à quanto tempo cada um estaria envolvido com o WordPress. Entretanto foram vários os core contributors experientes que iam aparecendo e começando a trabalhar nos tickets que já tinham selecionado para resolver.
Uma grande parte dos participantes esteve presente na sessão de Como contribuir para o WordPress, um workshop em que se aprendeu a contribuir para o projecto. Houve quem quisesse apenas ajudar traduzir o WordPress e alguns projectos adjacentes e o Álvaro Góis conduziu esse grupo ensinando como trabalhar com o PoEdit para traduzir alguns temas e plugins.
O workshop de como contribuir para o WordPress foi dado por mim na parte da manhã com introdução às ferramentas de contribuição e algumas políticas e condutas a seguir. Isso proporcionou aos participantes uma forma de se ambientarem antes da contribuição. Depois do almoço, seguiu-se a segunda parte do workshop dado pelo Cristi Burca (scribu), que deu uma grande ajuda a todos ensinando na prática como contribuir através do Trac e outras ferramentas.
Os resultados deste dia foram positivos com novos colaboradores na comunidade, um lançamento (quase) oficial de uma comunidade WordPress no norte do país e várias contribuições para a core. Estiveram presentes neste dia alguns core developers, os desenvolvedores do Wysija entre outros nomes bem conhecidos o que tornou esta experiência muito rica e única.
CONCLUSÃO
Assim como no ano anterior, a Comunidade Portuguesa de WordPress está de parabéns! Este WordCamp foi fantástico e um exemplo para muitas outras organizações. O espaço escolhido para o dia de palestras foi o ideal e bastante aconchegante e o hacklab não podia ter sido maior, pois houve espaço para todos e internet com uma velocidade razoável.
Pode rever todo o WordCamp seguindo para a página do livestream e no eventifier.
Até breve.